quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Vampiros. Crença ou folclore?

Em diversas regiões de África é possível encontrar lendas e tradições populares de seres com características vampíricas. Na parte ocidental, por exemplo,  o povo Axânti fala de um ser de dentes de ferro que vive nas árvores, o “Asanbosam”, e os “Ewés” do Adze, que pode tomar a forma de um vaga-lume e caçar crianças. A região do Cabo Oriental, tem o “Impundulu”, que pode tomar a forma de um grande pássaro com garras e é capaz de invocar raios e trovões. O  povo Betsileo de Madagascár, fala do “Doramanga”, um fora da lei ou vampiro vivente, que bebe sangue e come as aparas das unhas dos nobres. Em Moçambique, existe um mito persistente sobre "Dragões chupasangue" que atacam a população durante a noite. Já em 1498, quando Vasco da Gama chegou ao porto de Quelimane, se deparou com estranhos cultos, que perduraram por volta do século XVII, de seres sobrenaturais que saiam durante a noite, para se alimentarem do sangue de pessoas e animais, causando-lhes por vezes, a morte.


No continente americano, o "Loogaro", é um exemplo de como uma crença vampírica pode ser o resultado de uma combinação de várias delas, no caso, uma mistura de influências francesas e de Vodu africano, ou "Voodoo". O termo "Loogaroo", possivelmente deriva do francês "Loup-garou", que significa "lobisomem", que é comum na cultura das Ilhas Maurícias. No entanto, as histórias sobre o  "Loogaroo", estão difundidas pelas ilhas do Caribe e pela Luisiana, nos Estados Unidos. A Soucouyant de Trinidad, e a Tunda Patasola do folclore colombiano, são monstros femininos de tradição semelhante, enquanto que os Mapuches do Chile meridional, têm a cobra sugadora de sangue conhecida como "Peuchen". Uma espécie de erva/folhagem, pendurado do avesso, por detrás ou perto de uma porta, é tido como eficaz no afastamento de seres vampíricos, principalmente nas superstições sul americanas. A mitologia asteca, possui lendas sobre os Cihuateteo, espíritos com cara de esqueleto, pertencentes àqueles que morreram à nascença e, que raptavam crianças mantendo relações sexuais com os vivos, levando-os à loucura.

Durante o final do século XVIII e no XIX, a crença aos vampiros, estava largamente difundida, em partes na Nova Inglaterra, em particular, em Rhode Island e em Connecticut oriental. Existem porém, muitos casos documentados de famílias, que desenterraram os seus entes queridos e lhes removeram o coração, por acreditarem que o falecido, era um vampiro responsável pelas doenças e mortes que afligiam a família, embora o termo "vampiro" nunca tivesse sido usado para descrever o falecido. No entanto, se acreditava que a tuberculose, tida como uma doença fatal e incurável na época, ou "consumação", como era conhecida, era causada por visitas noturnas de algum membro da família que houvesse morrido. O caso de suspeita de vampirismo mais famoso, e de registro mais recente, foi o de Mercy Brown, que morreu aos 19 anos em Exeter, Rhode Island,  no ano de 1892. Seu pai, assistido pelo médico da família, a removeu da tumba, dois meses após a sua morte, removendo seu coração e o queimando até ficar em cinzas.




Na Ásia, as modernas crenças vampíricas, enraizadas decorrentes do folclore mais antigo, se propagaram por todo o continente asiático, desde as lendas das entidades maléficas do tipo Ghoul, aos seres vampíricos das ilhas do sudoeste asiático. Na Ásia Meridional, também houve o desenvolvimento das suas próprias lendas vampíricas. O Bhúta ou Prét, é a alma de um homem que morreu de morte apressada. Esta, vagueia pelas redondezas, animando cadáveres à noite, e atacando os vivos, muito ao modo do Ghoul. No norte da Índia, existe o BrahmarākŞhasa, uma criatura vampírica com a cabeça rodeada por intestinos e uma caveira, de onde bebe sangue. A figura do Vetála, presente nas lendas da Ásia Meridional, pode ser descrita como um "vampiro".
Embora os vampiros marquem presença no cinema japonês, desde o final dos anos 50, o seu folclore, tem origem ocidental. No entanto, o Nukekubi, presente na cultura japonesa, é um ser cuja cabeça e pescoço  se separam do corpo, para voar ao redor, em busca de presas humanas durante a noite.




Desta forma, lendas de seres femininos, semelhantes a vampiros, que são capazes de separar partes superiores do seu corpo, também ocorrem nas Filipinas, Malásia e Indonésia. Existem, dois tipos principais de criaturas vampíricas nas Filipinas, o "Mandurugo" (Chupador de sangue) do povo Tagalog, e o "Manananggal" (Auto-segmentador) dos Visayan. O Mandurugo, é uma variedade de Aswang, que toma a forma de uma atraente jovem durante o dia, e à noite, ganha asas e uma longa e oca língua, semelhante a um fio. A língua, é usada para chupar o sangue das vítimas durante o sono. O Manananggal é descrito como uma bela mulher, mais velha que o Mandurugo, capaz de cortar a parte superior do seu torso, capaz de voar durante a noite com enormes asas, semelhantes às dos morcegos, violentando mulheres grávidas durante o sono em suas casas, sem que elas percebam, usando uma língua alongada em forma de tromba, para sugar os fetos. Também gostam de comer as entranhas (em especial, o coração e o fígado) e a fleuma das pessoas doentes.
O "Penanggalan Malaio"pode ser uma bela mulher tanto velha como nova , que obteve a sua beleza através do uso ou de magia negra, ou outros meios sobrenaturais, e geralmente descrita no folclore local, como sendo de natureza sombria e/ou demoníaca. Esta, consegue separar a cabeça com as suas presas aguçadas, a qual sobrevoa pelas redondezas durante a noite em busca de sangue, tipicamente de mulheres grávidas. Os malaios, costumam pendurar Jeruju em volta das portas e janelas das casas, na esperança que o Penanggalan não entre, com medo de ficar com os intestinos presos aos espinhos. O Leyaké um ser semelhante do folclore balinês. Um Kuntilanak, ou Matianak na Indonésia, e Potianak ou Langsuir na Malásia, é uma mulher que morreu durante a infância, e tornou-se morta-viva, em busca de vingança aterrorizando aldeias. Toma a forma de uma atraente mulher com suas longas madeixas negras, que esconde um buraco na parte posterior do pescoço, o qual, utiliza para sugar o sangue das crianças. O preenchimento desse buraco com o seu próprio cabelo, tem o efeito de afasta-la. Se colocavam contas de vidro na boca dos cadáveres, e ovos debaixo de cada axila, e agulhas nas palmas das mãos, impedindo desta forma, que se tornassem num Langsuir.




Jiang-Shi, do chinês tradicional, ou simplificado e Pinyin (cadáver rígido), muitas vezes chamados de "vampiros chineses" pelos ocidentais, são cadáveres reanimados, que vagueiam pelas redondezas, matando criaturas vivas, para lhes extrair a essência vital (). De acordo com estudos, conta, que são criados, quando a alma de alguém (), não consegue abandonar o corpo. No entanto, há quem coloque em causa a comparação entre  Jiang-Shi  e vampiros, uma vez que os Jiang-Shi, geralmente, são criaturas irracionais sem vontade própria. Uma característica pouco habitual deste monstro, é ter a pele coberta por uma pelagem branco-esverdeada, possivelmente derivada de fungos ou se decompondo sobre os cadáveres.
A era moderna, apesar da descrença geral em entidades vampíricas, têm registro de acontecimentos ocasionais de vampiros. De fato, ainda existem associações dedicadas à caça, embora tenham sido formadas largamente por motivos sociais.




No início de 1970, a imprensa local, propagou rumores sobre um vampiro que assombrava o cemitério londrino de Highgate. Caçadores de vampiros amadores, afluíram em largos números ao cemitério, e assim, escritos livros sobre o caso, notavelmente por Sean Manchester, um habitante local que esteve entre os primeiros a sugerir a existência do "Vampiro de Highgate", e que mais tarde, afirmou ter exorcizado e destruído todos eles, numa única noite. Em Janeiro de 2005, circularam rumores sobre um atacante que teria mordido uma série de pessoas em Birmingham na Inglaterra, alimentando receios sobre uma a perambular pelas ruas. No entanto, a polícia local afirmou que tais crimes, jamais foram reportados, e que o caso, se trata de mais uma lenda urbana.
Aqui no Brasil, em Belém do Pará, no outono de 1977, foi registrado o que foi descrito como, uma estranha praga de vampirismo, envolvendo um "vampiro luminoso", que teria ocasionado a morte de algumas pessoas por perda de sangue, e ferimentos em várias outras.
Um dos mais notáveis casos de entidades vampíricas da era moderna, o "Chupacabras", em Porto Rico e no México, é descrito como uma criatura que se alimenta da carne e bebe o sangue de animais domésticos, levando em conta, que alguns o consideram um tipo de vampiro. A "histeria do chupacabra" tem sido frequentemente associada a profundas crises econômicas e políticas, em particular nos anos 1990. Em Moçambique, na região de Quelimane, incidentes de vampirismo, têm levado parte da população a deixarem suas casas e permanecendo a noite, em edifícios públicos com medo dos "chupadores de sangue". Em 1996 a rádio de Moçambique, noticiou o estranho caso de um cadáver, que se levantou do túmulo e percorreu as ruas de Nampula, após encontrarem diversos cadáveres ensanguentados de pessoas e animais.




Relatos de ataques de vampiros, correram o país africano do Malawi, no final de 2002 e início de 2003, com multidões apedrejando um indivíduo até à morte e atacando pelo menos outros quatro, incluindo o Governador Eric Chiwaya. Fatos baseados na crença de que o governo, estava de conluio com vampiros.
Na Europa, onde a maior parte do folclore vampírico teve sua origem, o vampiro é considerado como um ser fictício, embora muitas comunidades tenham acolhido a criatura por motivos econômicos. Em alguns casos, especialmente em pequenas localidades, as superstições sobre vampiros ainda estão bem enraizadas, e relatos sobre ataques de vampiros ocorrem frequentemente. Na Romênia, em fevereiro de 2004, muitos parentes de Toma Petre, recearam que este, havia de fato se tornado num vampiro, e exumaram seu corpo, extraindo seu o coração, o queimando e misturando às cinzas com água, para que pudessem beber e se alimentar de seus restos.




Em 2006, um professor de física da Universidade da Flórida, escreveu um artigo, argumentando a impossibilidade matemática da existência de vampiros, baseado na progressão geométrica. De acordo com o artigo, se o primeiro vampiro tivesse aparecido a 1º de Janeiro de 1600, e se alimentado uma vez por mês, que é menos que o que é representado no cinema e no folclore, e se todas as vítimas se tornassem vampiros, em cerca de dois anos e meio, toda a população humana existente à época, teria se tornado vampira. O artigo, não faz qualquer tentativa de resolver a questão da credibilidade do pressuposto que toda a vítima de um vampiro, se transforma em outro vampiro.
O vampirismo e o seu modo de vida vampírico,  também representam uma parte relevante dos movimentos ocultistas atuais. O mito do vampiro, as suas qualidades mágicas, imortais e sedutoras, e o arquétipo de predador, expressam um forte simbolismo, que pode ser usado em técnicas que envolvam o uso de ritual e de energia, podendo ser adotado como sistema espiritual. O vampiro, há séculos, que faz parte da sociedade ocultista européia, e também se difundiu na subcultura americana, há mais de uma década, com forte influência e mistura das estéticas neogóticas.

5 comentários:

  1. Daniel, parabéns.
    O blog está muito interessante.

    Cultuta e conhecimentos sempre são bem vindos.

    Bjs
    Kelly HIAE

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  2. Daniel,
    Seu blog está um sucesso!!!!
    Parabéns
    Bjs
    Edleny HIAE

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    1. Obrigado Edleny. Fico feliz em saber que tenha gostado. Volte sempre.

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  3. E pensar q os vampiros de hj em dia foram reduzidos à fadinhas (elas sim são seres de luz) e vegetarianos! Saudades dos tempos em q eles causavam medo e fascínio ao mesmo tempo.

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