segunda-feira, 23 de julho de 2012

Bebida para homem


Chega de uísque, cerveja e cachaça. Novos sabores de coquetel conquistaram o paladar masculino. 



O escritor Ernest Hemingway e o personagem James Bond entornaram muitos daiquiris e dry martinis. Símbolos de masculinidade e sofisticação antes da década de 1960, os dois eram fãs de coquetéis. Hemingway e Bond não viviam no Brasil. Por aqui, a mistura etílica mais aceita pelos homens contém apenas trigo e cevada. Com alguma abertura para o vinho, a cachaça ou o uísque. Quem ousa escapar da relação monogâmica com a cerveja precisa engolir, antes do drinque, uma boa dose de chacota. “Acham que é coisa de mulherzinha”, diz o apresentador Fred Lessa, aos risos. Ele adora pedir sugestões aos bartenders e experimentar novas combinações. Diante dos amigos, a ousadia de seu paladar tem limite. Fred já pediu para servir coquetel em copo longo para evitar as piadas que uma taça em Y causaria.


Preconceito que o consultor inglês Spike Marchant, barman há 25 anos, afirma não encontrar em nenhum lugar do mundo. “Lá fora, executivos e homens de negócio degustam drinques naturalmente”, diz Marchant. Ele esteve no Rio de Janeiro entre os dias 8 e 12 de julho como anfitrião do World Class, uma espécie de Oscar da coquetelaria mundial. O evento desembarcou no hotel Copacabana Palace depois de edições em Londres, Atenas e Nova Délhi – um indício de como o setor vive sua melhor fase no país. Por que os boêmios conservadores, preocupados em manter a imagem de macho alfa, resistem a treinar o paladar arriscando brindes diferentes?
Para o barman Fabrício Marques, representante da vodca Diageo no país, os brasileiros não tiveram como referência a coquetelaria clássica. O que se consumia aqui eram variações de caipirinhas, com frutas e sabores adocicados. Ou algo parecido com um arco-íris em forma de bebida, uma apresentação tropical e exuberante. Esses elementos tendem a cair no gosto feminino. Por isso, essas bebidas ficaram associadas às mulheres.
Os homens preferem discrição e misturas de destilados com ingredientes cítricos e amargos. Hoje, há invenções com manjericão, pepino, suco de limão-siciliano, chá de bergamota e até vinagre (experimente as receitas abaixo). Na disputa para atrair o público masculino, a concorrência nunca esteve tão acirrada. Um levantamento da Diageo revelou que, em São Paulo, o número de casas especializadas em coquetéis cresceu 750% nos últimos três anos. “Agora é a chance de educar o paladar”, afirma Marques. “Ninguém gosta de cerveja no primeiro gole".

Atrás do balcão do bar SubAstor, em São Paulo, Rogério Souza toma para si o desafio de convencer seus clientes. Como o drinque costuma “maquiar” o álcool, muitos homens consideram a bebida fraca. Argumento de quem nunca provou um negroni (composto de Campari, gim e vermute). A cada pedido de shot puro de uísque ou vodca, Souza investe: “Posso preparar algo com o mesmo destilado, mas um sabor melhor?”. O empresário Rodrigo Pedreira não só se convenceu, como virou especialista no assunto. Nas confrarias de que participa no SubAstor, ele observa o preparo do coquetel, repara se exageraram no açúcar ou se alguma raspa de limão escapou do coador. Pedreira defende o custo-benefício de seu hobby. “Chope e cerveja estufam. Preciso tomar muitos copos para ficar animado”, diz. “Com três drinques, apreciando devagar, já estou satisfeito.”
Em geral, o preço dos drinques varia de R$ 20 a R$ 35 nos bares da capital paulista. Isso explica o perfil dos consumidores. Segundo a Associação Brasileira de Bartenders (ASSBB), eles têm entre 20 e 40 anos, além de alto nível econômico. “A coquetelaria está se desenvolvendo porque o Brasil prosperou”, afirma o coordenador de cursos da ASSBB, Fábio Oliveira. Nos anos 1990, ainda era difícil encontrar ingredientes importados, como destilados de luxo ou especiarias e xaropes. Hoje, as criações abusam de elementos como pó de ouro, ágar-ágar (substância extraída de algas marinhas) e néctar de agave (um gênero das plantas suculentas).

As tendências apontam para novas versões de clássicos como o dry martini, com um “twist”, ou pitadas de modernidade. Pode ser o acréscimo de pepino macerado à receita original ou uma vodca aromatizada. Para Marques, como antigamente era mais difícil encontrar destilados de boa qualidade no Brasil, ficava complicado encontrar o equilíbrio e suavizar os sabores. “Estamos revisitando esses coquetéis com técnicas atuais”, afirma Marques. A taça em Y, que caíra em desuso até para as mulheres, voltou no seriado Sex and the city. Nele, as quatro personagens brindavam suas peripécias sexuais com o drinque cosmopolitan, que leva até suco de mirtilo-vermelho (cranberry).

No Brasil, as cenas reforçaram a ideia de que o recipiente, sinônimo de sofisticação, põe em dúvida a orientação sexual do homem. Uma bobagem. A haste desse modelo de taça evita o choque térmico e mantém a baixa temperatura da bebida. Ela é usada em drinques com alto teor alcoólico que não levam pedras de gelo. Os marmanjos que deixaram a zoeira de lado experimentam novas conquistas. Não necessariamente do paladar. “Meus amigos aprenderam receitas pela internet só para pegar a mulherada”, diz Fred Lessa. “Para elas, preparar drinques é tão atraente quanto saber cozinhar.”

Beber pode ser considerado uma arte, mas lembre-se: com moderação.

Um comentário:

  1. Ao menos os coquetéis tem um visual bonito. Gosto de observar suas cores apenas. Post super interessante, pena q o Brad Pitt estragou um pouquinho, preferia o Sean Connery ou o George Clooney dizendo qual coquetel prefere. Não vejo beleza nenhuma nem sofisticação suficiente no tal Brad Pitt. Bjs e cheers p/ vc.

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