terça-feira, 6 de março de 2012

A nova safra dos filmes de arte

O cinema em si, já é uma arte. A sétima arte. Todos os anos, ele nos brinda com obras de renomados diretores, atores em ascensão, roteiros originais e figurinos simplesmente impecáveis à referência de uma determinada época. Sem deixar de mencionar na fotografia, ora impressionante, ora simples, mas sempre ilustrando cenários, paisagens e pessoas, maravilhosamente divinas. Este é o cinema. E esta, é a sua melhor safra do ano de 2012.

O filme “O Último Dançarino de Mao” (Mao’s Last Dancer), do mesmo diretor de “Conduzindo Miss Daisy” (Driving Miss Daisy), Bruce Beresford, narra o drama baseado na autobiografia do bailarino chinês Li Cunxin. Aos 11 anos de idade, forçado a abandonar a sua pobre aldeia natal na China, pelo delegado cultural da Madame Mao, e levado para Pequim aonde viria a estudar ballet. Em 1979, durante um intercâmbio cultural no estado do Texas, consegue entrar na Companhia Houston Ballet como bailarino principal e começa uma nova vida, e livre das opressões de seu país. O governo chinês tenta então, trazê-lo de volta para a China, porém questões legais e o casamento com uma cidadã americana o mantêm nos Estados Unidos. Acontece que, para manter a liberdade e atingir o sucesso na sua carreira, Li Cunxin, terá de abandonar para sempre a sua família. Com uma atuação brilhante em seu filme de estreia, o ator Chi Cao, faz deste filme, algo para refletir sobre uma verídica, fantástica e dramática história, sobre um ser humano que jamais desiste dos seus sonhos. 


Após a morte do Papa, o conclave do Vaticano se reúne para escolher seu sucessor. Após várias votações, enfim há um eleito. Os fiéis, amontoados na Praça de São Pedro, aguardam a primeira aparição do escolhido (Michel Piccoli), mas ele não vem a público por não suportar o peso da responsabilidade. Tentando resolver a crise, os demais cardeais resolvem chamar um psicanalista, para tratar o novo Papa. Sob o olhar do diretor Nanni Moretti (que também atua interpretando o psicanalista do novo Pontífice), brinda o espectador, com um filme belíssimo sobre sonhos, costumes, direitos e deveres. “Habemus Papam” (Habemus Papam), é um filme que aborda todas essas questões e algo mais.


Forte concorrente ao Oscar deste ano, a atriz Glenn Close, dispensa apresentações. Sua atuação ao interpretar um personagem masculino, supera todas as expectativas. Infelizmente, perdeu o prêmio para sua concorrente, Meryl Streep. Albert Nobbs, interpretado por Glenn Close, o personagem título que, para conseguir sobreviver na sociedade machista da Irlanda do século XIX, se vê forçada a se disfarçar de homem. Quando um pintor chega ao hotel onde ela trabalha como mordomo, Albert Nobbs é inspirado a tentar escapar da vida falsa que criou para si mesma. Mesmo que isso, lhe custe muito caro. O filme ainda conta com o sucesso da cantora Sinéad O'Connor, "Lay Your Head Down". Uma linda canção, para um belíssimo filme.


Vencedor do Oscar deste ano, na categoria de melhor filme estrageiro, “A Separação” (Jodaeiye Nader az Simin), do diretor Ashgar Farhadi, traz uma trama simplesmente única e original. E nos faz questionar como é possível, um filme de origem iraniana, cujo país, constantemente em conflito por questões sociais e políticas, é capaz de produzir uma “obra de arte” como este filme, que mostra a história de Nader (Peyman Moaadi), após se divorciar de sua esposa Simin (Leila Hatami), obrigado a contratar uma jovem para tomar conta de seu pai idoso que sofre de Alzheimer em estágio avançado. Porém a diarista está grávida, e trabalhando sem o consentimento de seu marido, condições que junto a um terrível incidente, levará as duas famílias a um julgamento de cunho moral e religioso. Precisa dizer mais. Sessão obrigatória para quem é fã de cinema de arte.


Marcel Marx é um boêmio e um escritor, que abandonou qualquer ambição literária exilando  voluntariamente na cidade portuária de Le Havre, onde exerce a profissão de engraxate de sapatos, o que não lhe dá dinheiro, mas lhe permite ficar mais próximo das pessoas. Assim, vive feliz em uma rotina que consiste em seu trabalho, seu bar preferido e sua esposa Arletty quando, inesperadamente, o destino coloca em seu caminho o jovem imigrante africano Idrissa, procurado pelas autoridades e o detetive Monet por estar tentando chegar ilegalmente dentro de um container em Londres. Enquanto sua esposa fica gravemente doente e internada em um hospital, a única coisa que Marx pode fazer é combater a fria indiferença humana para tentar ajudar o jovem imigrante a chegar a seu destino, com o único recurso que lhe resta, o otimismo e a solidariedade de seus vizinhos. Essa, é a emocionante história de “O Porto” (Le Havre).


Dirigido por Madonna, “WE – O Romance do Século” (W.E.), é seu segundo longa-metragem. Para quem se lembra, seu primeiro trabalho como diretora, foi em 2008 com “Sujos e Sábios”. Neste filme, concorrendo ao Oscar na categoria de melhor figurino, Madonna nos traz a história do rei Eduardo VIII, se passando em duas épocas distintas. No passado, vivendo um tórrido romance com a americana Wallis Simpson, e nos dias atuais, o romance de uma mulher casada, com um agente russo. Considerada por grande parte do elenco, como uma mulher extremamente perfeccionista e muitas vezes como “tirana”, o pulso firme de Madonna, acarretou na desistência dos atores e atrizes Ewan McGregor, Margo Stilley e Vera Farmiga, além do produtor David Parfitt e a diretora de elenco Nina Gold. Ainda assim, Madonna mostra que sabe ser competente por de trás das câmeras, ao dirigir este romance dramático.


Ok. O ator Sacha Baron Cohen não é bem visto ou bem quisto (e talvez nem seja mesmo), por ter barbarizado com suas produções tragicômicas anteriores. Em “Borat” e “Brüno”, ele categoricamente escandaliza geral. Apesar de tudo, há quem goste de seus filmes. A pergunta que não quer calar é: “Como ele consegue”. Pois é. Seus filmes estão longe de serem aclamados pelo público, como películas de arte. Pode não agradar a gregos e troianos, mas diverte. Por outro lado, sejamos sensatos, o sujeito é genial ao criar seus tipos fazendo caras e bocas. Em “O Ditador” (The Dictator), Sacha Baron Cohen, contracena com gente de peso. Ben Kingsley, Megan Fox, John C. Reilly entre outros. O enredo pode até ser considerado banal, mas não deixa de ser original. Interpretando dois personagens distintos, um pastor de cabras e um ditador opressivo que se encontra perdido na América, Sacha Baron Cohen, faz o que sabe de melhor, ou seja, escandalizar e chocar platéias. E ele, mais uma vez, consegue. 


É difícil de acreditar que, um filme estrangeiro possa arrematar todos os prêmios possíveis existentes. Porém, foi o que aconteceu ao filme “O Artista” (The Artist). Dirigido por Michel Hazanavicius, com Jean Dujardin (considerado pela crítica, o sucessor de Gene Kelly) e Bérénice Bejo, entre outros gloriosos nomes do cinema americano, “O Artista”, é um filme mudo, de produção francesa e americana do gênero comédia-dramática, e que conta a história de um ator em declínio e uma atriz em ascensão, enquanto o cinema mudo sai de moda, sendo assim substituído pelo atual cinema falado. A trama, que se passa na “Hollywoodland” entre os anos 1927 e 1932, retrata com precisão de detalhes a direção de Michel Hazanavicius, de forma majestosa. É o cinema dentro do cinema. 


Um filme que traduz exatamente e sem palavras (literalmente falando), o que é a magia e o encanto da Sétima Arte.

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