quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Um amor de árvore


Esta, é a história de Mariângela, 33 anos e frustradíssima com a sua vida amorosa. Dos seus quatro ex-namorados oficiais e dos poucos romances ocasionais, tinha lembranças que oscilavam do remorso à mortificação. Não sabia se ria ou se chorava ao se lembrar de Aldo, quase noivo, que a trocou pela hostess pernuda do seu restaurante favorito. Pensava também no pobre Djalma, bonitão e simpático, mas um pouco "rústico", já que no quesito inteligência, deixava a desejar. Vergonha imediata sentia ao lembrar de Marcelo, moreno de 1,80 que conheceu através da Internet, mas que na vida real, tinha a língua presa e "um e fefenta e oito" de altura.

Pois é, as coisas andavam difíceis para Mariângela. As amigas bem que tentaram apresentar alguns gatos pingados, mas que rapidamente, passavam para a ala mental das frutas. Ou eram "bananas", ou "abacaxis".

Cansada e desgostosa da vida, Mariângela resolveu tomar uma atitude radical. Algo definido por suas amigas como "insano" e ao mesmo tempo, "sem sentido". Ela iria beijar o primeiro homem que visse na rua. Sem preâmbulos, sem seleção natural. Na lata. Tipo "pá-pum". Uma chance ao acaso além de uma forma de protesto. Vestiu seu melhor jeans, a blusa verde que deixava os ombros à mostra, o delicado saltinho nude e desceu de elevador até o térreo. Abriu a porta para a rua, agradecendo o fato de o porteiro ser casado, e pôs os pés na calçada. Olhou para os lados. Viu o vizinho viúvo de 80 anos passeando com o cachorro. O entregador de revistas com os braços cheios. Um rapaz fazendo a sua corridinha matinal.

Será que, ao beijar o pobre velhinho, Mariângela teria de passar os minutos seguintes fazendo massagem cardíaca sob o olhar reprovador do Bingo? Será que teria de ajudar o entregador a recolher todas as revistas dominicais caídas na sarjeta? Será que o suor do corredor faria seu cabelo enrolar? Mariângela jamais se sentiu tão ridícula na vida. Sacudindo a cabeça com um sorriso amargo, deu um longo suspiro, se aproximou de sua árvore favorita e deu um beijo nela, em penitência pela ideia idiota que teve. 

Jair, ativista do Greenpeace, dobrava a esquina naquele instante e ficou comovido com o gesto. Finalmente se casaram 6 meses depois. Bingo, estava presente, mas a árvore, esta, não pôde comparecer...

2 comentários:

  1. Linda história adorei. A ilustração do Romero Britto foi a escolha perfeita p/ algo tão lindo e poético. Bjs

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  2. Adorei meu amor. Vou ter que roubar está, acho que meus alunos irão adorar essa história rsrs...

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