sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Caiu do céu

Moradores de duas cidades do interior do Maranhão, afirmam e acreditam que dois objetos voadores não identificados, caíram do céu. Uma esfera esquisita, meio queimada, aparentemente de ferro. Segundo os moradores de Anapurus, norte do Maranhão, que fizeram as imagens através de um celular, a bola caiu do céu e destruiu tudo o que havia pela frente. O saldo, mesmo que pequeno, contabilizando a queda de duas árvores, já deixou muita gente assustada.



Mas essa, ainda não foi a maior esquisitice que os maranhenses presenciaram hoje. A 300 quilômetros de Anapurus, em São Luis, outro objeto não identificado, também causou espanto da população, logo cedo. Moradores alegam que não somente viram como ouviram também, um objeto se aproximando vindo dos céus, caindo e causando um estrondo muito forte. O objeto estranho, que leva a forma de uma placa de metal, ficou cravado numa árvore, na pequena cidade de Tufilandia. Moradores, afirmam e acreditam se tratar de algum objeto de fabricação pelo homem, do tipo um satélite, ou pedaço de fuselagem de uma aeronave. Curioso, é que um morador da cidade acredita ter vindo do espaço, mas não do céu.


Levadas as imagens ao presidente da sociedade de astronomia do Maranhão, Manuel Ricardo Costa, disse jamais ter visto nada parecido. Mas não descarta na hipótese de se tratarem de lixo espacial. Comuns ao apresentarem marcas como derretimento nas laterais e corrosão. Indagado sobre a questão dos estrondos, ouvidos por vários moradores, ele não descarta a hipótese de ambos os objetos, terem vindo sim do espaço. A peça pertenceria a um foguete da família Ariane do consórcio espacial europeu Arianespace, responsável também pelo russo Soyuz e o italiano Vega. O foguete é lançado da base de Kuru, na Guiana Francesa, para colocar satélites em órbita. A informação foi divulgada no site em francês da agência, que entrevistou o pesquisador espacial Igor Lissov. "Pode-se afirmar com alto grau de probabilidade que o balão esférico descoberto no estado do Maranhão é um fragmento do terceiro estágio do lançador europeu Ariane-4 lançado em 1997 do centro espacial de Kourou", disse Lissov. Segundo ele, comunicados entre pesquisadores norte-americanos confirmam a informação.


A possibilidade de a peça pertencer a um foguete se explica, segundo Marcos Pontes, também pelo local onde o objeto metálico caiu e pelo estado em que foi encontrado. "A trajetória dele fica mais para o norte, ou seja, a peça teoricamente cairia no meio do oceano Atlântico. Seria mais provável. Mas pela proximidade, pode até ser de ele chegar por ali, no Maranhão", diz Pontes. Além disso, explica ele, o foguete "sai do zero e passa por diferentes velocidades na atmosfera". "Esses objetos que estão no espaço em órbitas baixas, com o tempo vão perdendo velocidade e começam a reentrar. Sendo de um foguete, ele teria menos chance de queimar totalmente nessa entrada."

No Brasil, especialistas em engenharia aeroespacial afirmam que é difícil ter certeza absoluta sobre a origem da peça, mas que se trata, pelas circunstâncias, de lixo espacial. Segundo o coronel aviador da reserva,  Sebastião Gilberti Maia Cavali, que foi chefe da Divisão de Projeto Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial da Aeronáutica, não é uma peça de avião. Há várias hipóteses de ser um lixo espacial. É um reservatório de alguma coisa, de combustível, isso é certeza. Pode ser um lixo espacial de satélite ou de foguete, ou também podia estar em um balão, pode ter caído de algum outro equipamento”, diz.  De acordo com a Agência Espacial Europeia, os foguetes Ariane possuem tanques de combustível de titânio com um propelente chamado Hidrazina (N2H4). A imagem à esquerda é de um tanque do Ariane 5, um foguete que substituiu o Ariane 4.  O astronauta brasileiro afirma que a hidrazina é um dos combustíveis utilizados em propulsão mais fina, de foguetes pequenos, e poderia estar presente na esfera encontrada. "Mas é improvável, porque essa substância é usada geralmente só no espaço para mudar nesses foguetes. Se fosse, seria extremamente tóxica. Se quem mexeu não começou a ter reações sérias na pele em 15 minutos, provavelmente não é."

Segundo um centro de estudos americano especializado em lixo espacial, havia previsão de que fragmentos do foguete Ariane 4 readentrassem a atmosfera terrestre no dia 22 de fevereiro às 5h22 (horário de Brasília de verão) em qualquer um dos pontos nas linhas azul e amarela do mapa:


A Nasa possui um programa específico de monitoramento do lixo espacial e um manual em seu site alertando sobre esse tipo de material (veja aqui em inglês). Segundo a agência, existem hoje milhares de objetos orbitando em torno da Terra e outros milhões muito pequenos para serem rastreados, uma verdadeira poluição espacial. A grande maioria se deteriora ao retornar à atmosfera, outros objetos, não. No Brasil, outra bola metálica caiu no município de Montividiu, em Goiás, em março de 2008, a 150 metros de uma casa. Dias depois, outro objeto despencou do céu, dessa vez na Austrália. E em dezembro de 2011, uma esfera caiu em uma região desabitada na Namíbia, país no sul da África.


Segundo a agência espacial americana, porém, a chance de ser atingido por um desses objetos de uma em um trilhão. E mesmo assim, aconteceu. 


Definitivamente, nós não estamos sós.

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