terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Nada se cria, tudo se copia

50 anos de sucesso, glamour, sofisticação, charme, enfim. Se formos numerar os adjetivos que fazem de James Bond, o agente 007, o espião mais famoso do cinema, isso sim daria um romance e tanto. Não é de hoje, que a fórmula de sucesso dos filmes de 007, tem gerado "filhotes" na indústria cinematográfica, pegando carona em suas aventuras. 

Quem acha que o mundo da espionagem e ação se resume aos filmes de 007, engana-se. Produções bem feitas com cast renomado e assinado por grandes e experientes diretores, fizeram bonito ao longo destes anos. Tanto é que, muitos além de colecionarem cobiçados prêmios, (entre eles o Oscar, a Palma de Ouro em Cannes, Urso de Prata em Berlim, César na França, entre outros) se tornaram cult, clássicos imortais. Cada vez que são vistos e revistos, despertam algo inexplicável em um telespectador. 

Assim, como os filmes de James Bond, algumas produções feitas ao redor do mundo, sejam americanas, chinesas, europeias, não somente conquistaram o público em geral, como também, se tornaram ícones da comédia e do humor irreverente. A lista é enorme, mas algumas delas se destacam, principalmente por satirizarem de forma inteligente, com uma boa direção e interpretação do elenco, arrancando gargalhadas da platéia. Risco que torna os filmes de 007 debochados? De certa forma sim e não. Não há por exemplo, como não se entregar ao riso, ao assistir uma determinada aventura de James Bond, sem ao mesmo tempo ser remetido à comédia assistida. Isso porque os próprios filmes de 007, já são considerados diversão garantida. Com um diferencial, é um filme sério, de ação e aventura. Já as comédias escrachadas, repletas de non-sense, são despretensiosas, mas com um grau cômico bem mais acentuado. Quer um exemplo? Veja só: os americanos bem que tentaram imitar mas não conseguiram. Em "Flint Contra o Gênio do Mal (Our Man Flint)", uma tentativa frustrada de consolidar uma série americana nos moldes de 007, com uma interpretação incrível do falecido ator James Coburn, no entanto, só conseguiram produzir 2 filmes apenas. Cópia barata de 007? Nem tanto. Porém, estes, não podem ser considerados aquele estilo cômico e satírico do qual estamos falando. Ambos divertem e não são filmes tão sérios como os de James Bond. É o que se pode classificar de comédia leve e ao mesmo tempo, um cult do cinema americano. 


O ator Richard Grieco, protagonista do seriado de aventuras dos anos 80, "Anjos da Lei (21 Jump Street)", no início dos anos 90, protagonizou um pastiche um pouco mais pesado. Este sim, foi uma cópia cômica satirizando os filmes de James Bond. Tem de tudo um pouco. Um vilão maluco de pedra,  que almeja detonar um colapso na economia mundial, criando sua própria moeda única. Ao lado de seu fiel auxiliar, que fala pouco e ao mesmo tempo é seu braço forte, literalmente falando. Uma bela garota e armas secretas, o bastante para deixar o herói, um espião por engano, totalmente confuso. No lugar de um Aston Martin, um Lamborguini vermelho. A trama, gira em torno de um relapso estudante adolescente, que após ser reprovado em língua estrangeira, é obrigado por seus pais e sua professora, a recuperar o tempo perdido em uma viagem de imersão ao sul da França. São várias, as citações aos filmes de 007. Do início ao fim, incluindo o clímax final entre o herói e o vilão, bem como seu auxiliar.


Já em "Duro de Espiar" (Spy Hard)", com o também veterano e falecido Leslie Nielsen, a bagunça é geral. É um daqueles filmes que satirizam sem piedade alguma, todos os filmes de espionagem no contexto geral da palavra. Para quem curte e gosta desse estilo debochado, é diversão garantida. Ainda mais com Nielsen no papel principal, na pele não de 007, e sim do agente WD-40. 


Mas a grande sacada do filme, fica mesmo a cargo do cantor "Weird Al" Yancovic que faz uma paródia aos temas dos filmes de James Bond. "Thunderball", para ser mais exato. Por que? É preciso ver pra crer e se deleitar. Sem deixar de mencionar que, nem a "Gunbarrel", marca registrada dos filmes de 007, foi poupada. Não identicamente, mas estilizada. 


Sai Leslie Nielsen e entra em cena, Mike Myers com seu "Austin Powers (O Agente Bond Cama)"


A grande sacada foi tirar sarro logo de início no título traduzido em português. Mas este, é um filme que se prende mais do lado do vilão, que do herói. Além de interpretar vários tipos de uma só vez, e ter rendido mais 2 continuações ("The Spy Who Shagged Me" e "Goldmember", o segundo nem tanto mas o terceiro, já se torna um tanto grosseiro em suas piadas), quem rouba todas as cenas na trilogia, é "Doctor Evil" (uma gozação sem dó em cima do satânico "Dr. NO"). Os filmes ganharam uma legião de fãs. Não por Austin Powers, mas pelo Dr. Evil, que insiste em frisar bem que é Doutor a título acadêmico e que não fez faculdade do mal à toa. Minha sincera opinião, é que a trilogia deveria se chamar Dr. Evil e não Autin Powers. É um personagem  tão rico que acaba ofuscando o brilho do herói. E o modo escrachado de parodiar os filmes de 007, segue adiante. Se existe um, que além de seguir à risca, os elementos dos filmes de James Bond, é "Johnny English", um filme tipicamente inglês e rodado, é claro, na Inglaterra com Rowan Atkinson, o Mr. Bean. Curioso, é que em 1983, no filme considerado não oficial da série, "Nunca Mais Outra Vez (Never Say Never Again)", Atkinson faz uma participação pequena ao lado de Sean Connery, que protagoniza um 007 velho e forma de forma. A aventura, foi uma tentativa frustrada de trazer Connery de volta às telas, com o que se pôde chamar de refilmagem de "Thunderball (007 Contra a Chantagem Atômica)". E mais curioso ainda, é que o roteiro de "Johnny English", foi escrito pela dupla de roteiristas que também realizaram alguns dos filmes de 007, ou seja, estamos falando de Neal Purvis e Robert Wade. Com dois filmes e com mais um terceiro que está por vir em 2015, Rowan Atkinson, faz um agente secreto a serviço da coroa britânica impagável. A trama, era para ser oficialmente a 20ª aventura de Bond ainda com Pierce Brosnan e "Um Novo Dia Para Morrer (Die Another Day)", a 21ª. Mas acabou se tornando simplória demais pelos produtores da série, e se tornando a trama do filme de Atkinson. Os elementos clássicos estão lá. Pelo menos alguns deles como o Aston Martin, e John Malkovitch (em uma atuação memorável, como sempre), como vilão. Este sim,  teria teria sido um oponente de peso para 007. Mas por razões óbvias, não foi.



Nem os filmes de "Blaxplotation" da década de 1970, escaparam. Como em "007 Viva e Deixe Morrer (Live And Let Die)", onde a aventura de estréia de Roger Moore como Bond, tem um elenco repleto de atores negros (justamente fazendo referência ao estilo há pouco citado), "Com A Cor E A Coragem (Undercover Brother)", é um filme diferente. Mais voltado para os clássicos como "Super Fly", "Shaft", "Jackie Brown" entre outros. Apesar do enredo ter uma trama bacana e regida pelos hits do disco funk e soul, faz uma breve menção aos filmes de 007. Não há como não rir do imponente Lincoln conversível dourado e de estofamento branco de couro, despejando óleo por um compartimento secreto, como no Aston Martin DB-5. É simplesmente hilário. E um detalhe: a atriz Denise Richards, que interpretou a Bondgirl "Christmas Jones" ao lado de Pierce Brosnan em "O Mundo Não É O Bastante (The World Is Not Enough)", está no filme. 


Incrível é ver pra crer. Nem os animais e os desenhos da Disney, deixaram de explorar esse filão. Em "Como Cães e Gatos 2 (Cats and Dogs 2: The Revenche of Kitty Galore)", não se trata de atores e sim de bichos. Isso mesmo. Cães e gatos. E eles falam. São animais pertencentes a uma organização secreta onde fiéis e bichanos juntam suas forças para combaterem a vilã Kitty Galore. Interessante, é acompanhar o desenrolar da trama e ver como tudo acaba bem, além de quebrar um paradigma, de que cães e gatos, podem sim conviver em perfeita harmonia. O mais interessante, é que, nem o bichano felpudo persa do vilão "Blofeld" muito menos "Dentes-de-Aço (Jaws)" foram poupados ao serem citados neste filme. Tem até um, que interpreta o auxiliar da gatinha vilã. Contar o resto, seria estragar o melhor trunfo do filme. 


Mas o mais inteligente até agora, foi a sequência de "Carros 2 (Cars 2)", da Disney. Os personagens principais estão de volta e desta vez, envolvidos numa trama internacional para James Bond Nenhum botar defeito. A grande surpresa do filme, está nos diálogos, que levam a maior parte das piadas. Sem falar num certo personagem que é um carro, que foi inspirado em 007. Portanto, vale ressaltar que é melhor assistir em som original, pois é onde estão concentrados os melhores momentos do desenho/filme.


Agora, se você acha ou pensa que termina por aqui, o melhor vem a seguir. Em "O Terno de Dois Bilhões de Dólares (The Tuxedo)", Jackie Chan interpreta o taxista "James Tong". Não, você não leu errado. É isso mesmo. E mais estranho e debochado fica, ouvindo ele com seu sotaque chinês, dizendo: "Meu nome é Tong. James Tong!". A trama se resume ao agente Clark Devlin, que procura um motorista de confiança e após sofrer um atentado, entrega à Tong um relógio, que é o responsável pelas peripécias de seu smoking, ou "Tuxedo" (em inglês), incluindo a arte da conquista, dançar e lutar com maestria. O que de certa forma, nos faz pensar às vezes, será que o sucesso de James Bond está embutido em seu smoking? Sem nexo algum pensar desta forma absurda, mas, que atire a primeira pedra, quem assistiu ao Terno e  chegou a pensar nessa hipótese.


E já que estamos falando de cópias autenticamente chinesas, essa é doer. Imagine só o que os orientais foram capazes de fazer? É melhor se preparar, porque a surpresa é grande. O ator e diretor Stephen Chow, resolveu fazer uma paródia, mas paródia mesmo e em grande estilo dos filmes de 007. Tanto que essa brincadeira lhe rendeu nada menos que 14 indicações nas categorias ao prêmio de melhor ator e outras 14 indicações como ator co-adjuvante, no Festival Anual de Hong Kong. Isso mesmo. E se você buscar qualquer outro filme de sua autoria, acredite, não será tão incrível quanto este. Nele, Chow interpreta "Ling Ling Chat". A princípio, um agente secreto, que usa o disfarce de vendedor de carne de porco no mercado chinês, quando repentinamente é chamado para resolver o desaparecimento de um osso de dinossauro. Além de lidar com o mistério principal, ele se vê envolvido com a jovem e bela agente dupla, Anita Yuen. Isso lhe lembra algum filme? Se você disse "Cassino Royale", acertou. O melhor desta obra-prima cômica chinesa, é o vilão, que mais parece o fantomas dos desenhos japoneses, sem falar nos acordes musicais que fazem menção ao clássico tema composto por John Barry. Repare bem.


E por fim, nem os europeus ficaram de fora. Até os franceses resolveram explorar a fórmula dos filmes de James Bond em duas comédias que merecem serem citadas. A primeira, são dois retardados, (melhor classificação impossível), que são convocados pelo governo a fazerem parte de um programa de espiões. São treinados para matar, mas só se for de rir. Porque as confusões que essa dupla apronta, não está escrito nem no gibi. No papel dos Triplo-Zeros, estão os comediantes argelianos, Ramzy Bedia e Eric Judor. Um item, que além de original e jamais utilizado nos filmes de James Bond, é o "Dente-fone". Pudera, pois sua inclusão deve doer horrores.


Mas o melhor, é o filme de Michel Hazanavicius. O mesmo diretor de "O Artista", dirige Jean Dujardin no papel do agente secreto "OSS-117". Um filme com ares de década de 60, repleto de muita ação, romance, comédia e aventura. 



50 anos anos de sucesso, de Bond. James Bond. Há 50 anos que sua fórmula é parodiada, seja em filmes de ação, seja em filmes cômicos ou sátiras, ou até mesmo em desenhos. Uma coisa é certa, os filmes de 007, são e serão sempre pioneiros neste gênero cinematográfico. Por mais que se tente copiar, jamais chegarão aos pés do original. Infelizmente é inevitável. Por outro lado, quando surge uma comédia parodiando os filmes de 007, são bem vindos, pois de certa forma, ameniza o árduo intervalo e a espera entre uma nova aventura e outra. James Bond é original. Não importa que seja mais do mesmo, apenas que agrade seus fãs. No entanto, as "cópias" de seus filmes, são inevitáveis. Isso porque, nada se cria. Tudo se copia.

2 comentários:

  1. Magnífica matéria. Não sabia que haviam tantos filmes. Parabéns!!!

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    1. A lista é enorme, porém estes, são os que mais utilizam os elementos de James Bond. Obrigado pela visita.

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