Com uma dose extra de acidez, o diretor Roman Polanski adapta a peça teatral "Deus da Carnificina" para as telas dos cinemas, classificando a trama como selvagens na sala de estar.
O cineasta franco-polonês Roman Polanski estava confinado em seu chalé suíço quando começou a desenvolver a comédia "Deus da Carnificina". Era início de 2010, enquanto ao mesmo tempo, os jornais relembravam o motivo escandaloso da sua prisão domiciliar, envolvendo a prática de abuso sexual cometido em 1977 contra uma adolescente de apenas 13 anos de idade. Com essa ideia fixa em mente, se afeiçoava mais e mais à peça teatral da francesa Yasmina Reza, encenada em São Paulo no ano passado e, cuja a sua identificação fazia jus ao compacto, ao texto original que isolava os personagens e ao mesmo tempo, ao público, entre as quatro paredes de um apartamento.
Proibido de entrar nos Estados Unidos, o autor de "O Pianista", usou efeitos visuais e um estúdio parisiense para ambientar a história em Nova York. O filme, selecionado para a competição do Festival de Veneza de 2011, o longa-metragem não trai em nada o espírito da dramaturgia e, com um elenco afiadíssimo, perfila as obsessões, e suas ironias irresistíveis do realizador de dramas igualmente asfixiantes, como "Faca na Água", "O Bebê de Rosemary" e "A Morte e A Donzela". Só que desta vez, porém, Roman Polanski dá preferência ao tom humorístico cáustico e nervoso.
Uma breve cena externa abre e fecha a trama. Dois meninos brigam, e um deles acaba levando uma surra. A partir daí, o roteiro se concentra na guerra entre dois casais de classe média alta, a fim de selarem um acordo de paz. Michael e Penelope, respectivamente interpretados pelos brilhantes atores John C. Reilly e Jodie Foster, pais da vítima, recebem em sua casa Nancy e Alan Cowan, personagens vividos por Kate Winslet e Christoph Waltz, cujo rebento iniciou a crise e que, ao implodir a polidez de tipos supostamente tão sensatos, o diretor dispara uma grande provocação contra a hipocrisia dos politicamente corretos.
Os selvagens aqui, parecem estar definitivamente ocupando a sala de estar...
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